VOCÊ TRABALHA NO QUE GOSTA?


Recentemente li um artigo de uma pessoa que tinha a certeza absoluta de que fizera a escolha errada na vida, estudando Desenho Industrial. Conheci a autora, infelizmente. Acordava ao meio dia. Ia de taxi para o trabalho e à 18h tinha a certeza absoluta de que a jornada havia terminado. Com essa mentalidade, deveria ter estudado para um concurso público. Funcionário público tem hora para chegar e hora para ir embora, salário certinho no final do mês, décimo terceiro e férias... e tem também a frustração de não ter chegado onde queria, de ter aberto mão de seus sonhos, de sua liberdade, de sua auto estima, para sentar atrás de uma mesa e ver a vida passar... para encarar a mesmice do dia a dia e mentir para si mesmo, dizendo que é o melhor, que os que estão ao seu lado são medíocres, e que não entende o porquê de o fulano ser promovido e ele não, já que é tão melhor do que os outros.

Pois bem, funcionário público tem os descontos - INSS, IR, plano de saúde (que normalmente tem hospitais de merda e médicos de bosta) - e tem o recalque de querer ter sido uma coisa e, obrigado pela vida, virado outra. Conheci um que queria ser arquiteto e virou economista. Que no horário em que deveria estar no emprego ainda estava em casa, em um bairro ruim, comendo biscoitinhos com goiabada. Depois de aposentado, não cansava de bradar o quanto a vida havia sido injusta com ele, que tinha o salário congelado e não conseguia acompanhar o ritmo dos amigos emergentes, moradores de seu novo bairro.

Funcionário público. Deveria ser feliz, afinal, tinha uma "carreira", tinha a tão famosa "segurança". Ao se aposentar, percebeu que os amigos não eram amigos, e que não teria mais as cestas de Natal, as garrafas de vinho e os convites. Percebeu a grande verdade, que era mais uma peça da engrenagem que se desprendia, e que seria facilmente substituída.

Eu já penso diferente. Trabalho no que gosto. Estudei desenho industrial na PUC, que ficava a dez minutos da minha casa. Na hora do almoço, sempre dava para dar uma fugida e tomar um banho de piscina, dar uma namorada. 

Na PUC aprendi a pensar, a aplicar, na vida e no trabalho, uma metodologia eficiente. Nunca acordei ao meio dia, é verdade. E nunca tive uma vida fácil. Neste momento estou fazendo 11 projetos, e espero poder aproveitar cada minuto útil do meu tempo para terminá-los.

Trabalho para empresas grandes, e muitas destas empresas não vieram por indicação e sim através dos links existentes no rodapé de meus projetos web. Mas as indicações existem, e são uma ótima maneira de começar uma carreira. Se você é bom, criativo, cumpridor de prazos e sabe valorizar cada centavo investido no projeto, terá sucesso na vida. Se você, porém, é incompetente, está sempre cansado, perde tempo na vida acessando a internet para ficar batendo papo com pessoas que não conhece, não é capaz de ler um livro técnico e não procura clientes, desista. Se prefere viajar a ganhar dinheiro, é melhor fazer um concurso público, virar professor, sei lá. Ter um emprego que lhe dê um mês de férias por ano (não tiro mais de 10 dias) e um décimo terceiro para fazer as comprinhas de Natal...

Ah não, não é só isso. Você, um dia na vida, fez um projeto que deu dinheiro. E se acha injustiçada porque não tem, hoje, nem um centavo do que ganhou. Que coisa! E você nem viajou! Comprou carro novo, reformou o apartamento, comprou móveis, computadores de última geração, foi a bons restaurantes, mas não viajou! Que coisa triste. Não viajou! 

Realmente, lendo o tal artigo, fiquei triste. A pessoa tinha talento para desenhar, mas desperdiçou este talento querendo ser o que não era, viver a vida que não tinha, descançar sem motivo... Fiquei pensando o motivo pelo qual ela insistiu nessa suposta "vida de merda" que levava. Eu penso diferente. Se está tão ruim, que tal mudar?

Emprego? Arranje outro. Profissão? Arranje outra. Mulher? Outra. Marido? Outro. Amante? Idem. O que não pode é ver a vida passar sem tomar uma atitude. Eu acho...

Voltando à profissão. Meu tempo livre me permite malhar, cuidar do meu filho, tomar banho de piscina na hora do almoço, jogar tenis, andar de bicicleta, passear com meu cachorro e conquistar 2 ou 3 novos clientes todos os meses. É pouco para você? Para mim está ótimo. É a minha vida! A que escolhi e lutei para ter. E o desenho industrial me trouxe até aqui!

Nunca tive - COM TODO O ORGULHO - uma carteira de trabalho. Nunca recebi um décimo terceiro, nunca tive férias remuneradas (aliás, acho um absurdo tê-las) e nem financiamento para a compra de um imóvel. Nunca tive prova de renda para abrir uma linha de crédito, mas nunca precisei (extratos bancários são excelentes provas de renda). Nunca tive horário para chegar (começo a trabalhar, por opção, todos os dias às 6 da manhã) e nem para sair (trabalho em casa, e por vezes não "saio", ou seja, viro a noite trabalhando). Nunca precisei mentir para um cliente, fingindo ter um grande escritório, pois tudo o que preciso para realizar um projeto é o meu cérebro e algumas ferramentas encontráveis em qualquer grande magazine.

Sempre fui um cara sonhador, e acredito ser esta minha grande virtude. Tenho realizado meus sonhos, trabalhado muito, visto que a vida é bela.

Descobri que não tenho vocação para viver a vida dos outros, ficar tentando empurrar para a frente uma pessoa que faz questão de andar para trás. E essa foi a melhor descoberta que fiz. Depois disso, a alegria virou lugar comum.

E VIVA O DESENHO INDUSTRIAL!

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