Um dia, não lembro como nem porque, uma gaiola com um gavião foi parar em minha casa. Era um animal belíssimo, imponente, de olhar penetrante e garras afiadas. Mas estava ali, domado, aprisionado em uma pequena gaiola, amansado sabe-se lá como...
Levei-o à casa de um amigo e tirei o fundo da gaiola, soltando-o no gramado. Ao invés de alçar voo e ir embora, viver sua vida de gavião, ficou ali olhando para mim. Sentei em uma pedra e fiquei esperando o momento mágico em que ele, percebendo a liberdade, iria embora. Mas não aconteceu. Escureceu, e tive que levá-lo para casa.
Contei com a colaboração de uma empregada, a Cândida, uma senhora que trabalhava em casa desde que eu era pequeno. Soltei-o em um quarto grande, de guardados, coloquei uns poleiros e imaginei que conseguiria escondê-lo de minha mãe. Alimentá-lo era fácil. Comia carne e peito de frango...
Ficou um bom tempo ali escondido. De dia, quando minha mãe não estava em casa, Cândida o colocava para tomar sol.
Tentei soltá-lo outras vezes, mas ele não voava. Deixava-o então no quartinho. Ele acabou caçando e comendo todos os ratos que antes destruíam os guardados. Se caçava, podia ser solto...
Um dia minha mãe descobriu o gavião e me fez dá-lo para alguém. Cândida o levou para casa na gaiola. Amava aquele bicho, mas, como eu, não se conformava em ver ave tão majestosa aprisionada.
Quando ela ia, sexta à tarde, levar o neto para o internato em Jacarepaguá, notava um bando de gaviões da mesma espécie em uma pequena fazenda às margens da estrada. Imaginou que pudesse levar “nosso” gavião para lá e ver se ele se amigava com os outros. Foi o que aconteceu. Ela, um dia, saltou do ônibus com o neto, passou, sabe-se lá como, para o outro lado da cerca com o garoto e a gaiola e abriu-a, se afastando.
O gavião saiu, deu aquele grito característico de ave de rapina, bateu asas e se foi para o meio do bando. Ela chorou...
Que lição de vida! Uma pessoa totalmente ignorante para as coisas que julgamos importantes, analfabeta, quase miserável, mas incapaz de se julgar vencida até levar os seus objetivos às últimas consequências. Nunca se conformou de ver a ave presa. E presenteou-a com a liberdade. Eu queria estar ali no lugar do neto dela, que teve a oportunidade de aprender, ali, em pé ao lado de uma cerca de arame farpado, tão grande lição de vida, proteção animal, piedade, LIBERDADE!
Cândida ainda vive. Tem perto de 100 anos. Deve ser por merecimento...
Abraços a todos!
Comentários
quanto tempo, realmente no fotolog era mais fácil postar e deixar mensagens...
Bom, venho aqui com muita tristeza dizer que minha cachorrinha que deixei com minha mae morreu, leia os dois ultimos posts no meu fotolog para entender...estamos muito tristes...mas me sinto feliz por te-la dado uma qualidade de vida e que se nao fosse eu, estaria morta !! Nao sei, acho que a ficha ainda nao caiu...talvez venha chorar muito quando eu voltar para o Brasil e parar ao lado do tumulo dela no jardim da casa da minha familia....
um abraco,