O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Hoje eu contei para uma amiga um fato que aconteceu há quase um ano...

Muitas vezes tomamos atitudes que podem nos parecer certas em um primeiro momento e acabamos por, depois, ter que assumir as consequências de uma maneira que pode, facilmente, fugir ao nosso controle. Quando eu trouxe a Xuxa para casa, levei-a ao veterinário, que constatou que ela tinha todas as costelinhas fissuradas de um lado, provavelmente porque fora vítima de um chute forte, ou algo assim.

Pois bem... cheguei em casa e dei graças a Deus pelo fato de não haver ninguém em casa. Fui na obra ao lado e peguei um sarrafo de madeira. Cortei-o de forma que se tornasse um bom porrete. Escondi embaixo do casaco e fui lá na obra onde a peguei, disposto a fazer justiça com as próprias mãos.

Tentava me controlar, mas a revolta me consumia, e eu sabia que ia fazer uma merda daquelas grandes, que transbordam. Estava totalmente consciente de que não estava agindo de acordo com as regras impostas pela sociedade, ou pelos ensinamentos sobre o certo e o errado ditados pelos meus pais.

Eu era um justiceiro, disposto a vingar as atrocidades cometidas contra um animal inocente e, nessas horas, desde criancinha, perco o freio. Pois bem, perguntei pelo cara, e ele não estava lá. Tinha partido para outra obra naquele dia mesmo, mais cedo...

Um crente diria que "Deus escreve certo por linhas tortas". Um ateu como eu, que acredita que a religião é a grande muleta para a fraqueza humana, diria que o cara deu sorte, e eu também. Ele, porque teria umas costelas fraturadas para se preocupar enquanto estivesse na fila do hospital público, e eu porque teria que dar um jeito de não ir preso...

Vida que segue. 

Posso compensar com todo o amor que houver nessa vida para um cachorro, o fato de não ter podido vingar a dor de um animal que passou cinco, seis anos sendo torturado. Mas não posso fazer o torturador pagar com sangue, porque a sociedade não permite o Código de Talião.

Abraços a todos!

Comentários

Marcia Motta disse…
Luciano... Acho que depois do seu texto sobre a Suipa no Globo da data de hoje (24/05) voce deve se tornar um cara "famoso". Ha tempos sou socia da Suipa, mas nunca tinha tido coragem de ir ate la. Meu amor pelos bichos eh extremo e certas cenas me fazem sofrer por dias... Ano passado, tomei coragem e fui finalmente adotar um cao... Antes de decidir qual levar ja chorava copiosamente (pq afinal queria levar todos). Quando sai de la, decidi que poderia ajudar de alguma forma melhor, mas a reportagem de hoje me deixou bem frustrada, pois imaginava que a Suipa passasse aperto com dinheiro e esta seria a razao para aquele sofrimento todo la. No seu texto, parece que a Izabel eh bem dedicada (como parece ser nas cartas e acoes), mas que a "diretoria" eh travada...Afinal, quem eh esta "diretoria"? Qual a forma de substitui-la?? Queria muito poder participar ativamente de todo o processo.(Enquanto escrevo, minha cadela vem me trazer ossos para eu brincar com ela...qual teria sido o destino dela...)