Xuxica se foi...

São 8 da noite. Há meia hora, Xuxica cachorrinha partiu.

A coisa mais triste do mundo é ver um animal que por você sente um amor incondicional, aquele que não existe nem entre pais e filhos, morrer.

Xuxa tinha uma lesão irreversível no fígado, que não se manifestou até terça-feira da semana passada. Levei-a ao veterinário porque estava triste.

Xuxa era a cachorrinha mais alegre do mundo. Ela latia todo dia de manhã quando me via sentar no banco da cozinha. E a primeira coisa que eu fazia, antes de me servir, era dar um biscoitinho de cachorro para ela. E ela latia e latia, até que eu desse o segundo, o terceiro.

Xuxa era um animalzinho sofrido. Nascera na rua e, pelo que pude pesquisar nas redondezas, nunca tivera nada na vida. Nem comida, nem leite, nem paz, carinho, amor. Quando eu a trouxe para casa, imaginava poder dar a ela uma qualidade de vida boa, a melhor possível. Assistência veterinária, amor, carinho, cumplicidade, palavras de afeto, comida gostosa e paparicos. Queria que ela se sentisse o cachorrinho mais amado do mundo, porque ela era a mais amada, e retribuía com sorrisos de cachorro, com o olhar mais doce que já vi na vida. Ela era agradecida. Passava as tardes dormindo no tapete da varanda...

A impressão que eu tinha era a de qualquer coisa para ela era uma novidade boa. Colocar a coleira, ir para a pet shop tomar banho, correr atrás de uma bola que ela nem sabia trazer de volta, avançar no Buticus, dormir enroscadinha nele... Tudo era bom, e ela latia, arfava e demonstrava como poucos a sua alegria. E eu a amava muito, mas muito mesmo. Vocês tinham que vê-la "dando entrevista" para o programa PET.DOC. Ela parecia uma estrela de TV, adestrada para olhar para a camera sempre que pediam...

Hoje eu tive que autorizar a eutanásia dela, por amor, para acabar com o sofrimento dela. Ela não se mexia mais. Seus olhos não tinham vida. Era uma questão de dias para que, por falta de fígado, morresse envenenada. Estava totalmente amarelinha e não respondia a nenhum estímulo. Na hora, pensei que a coisa mais triste do mundo é autorizar que alguém acabe com a vida de um ser que você ama... mas não é. A coisa mais triste do mundo é ver um MELHOR AMIGO não ter a coragem de autorizar uma morte digna para seu companheiro e, por pena de si mesmo, permitir que ele sofra e morra à míngua.

A Minha Chica se foi.

Espero um dia poder retribuir, talvez adotando outro animalzinho que esteja precisando, todo o amor que essa cachorrinha de rua me deu. Um amor que eu tive que conquistar dia-a-dia, metro a metro, quando ia, no inverno de 2007, levar comida para ela todas as noites. Não há relação mais bonita do que a de um homem e seu cão. É uma relação que não envolve interesses, dinheiro, provas disso os daquilo. O animal simplesmente te ama e você, se conseguir se desprender de todos os sentimentos mesquinhos que regem a nossa vida, o ama também.

Hoje o Buticus sentiu o cheirinho da Xuxa pela última vez. Ele também não é o mesmo cachorro de 10 dias atrás. É mais triste, mais cabisbaixo... A mãezinha dele se foi...

Abraços a todos!

Comentários

Unknown disse…
Adoro ler o que escreve! Às vezes dou muitas risadas, mas hoje..... Infelizmente seu coração está triste, porém adorei, lindo!! Ela está em ótimo lugar! E teve uma vida feliz ao seu lado!

Beijos

Verinha.
Luciano Boiteux disse…
Vera,
Obrigado.
Pode ter certeza absoluta que eu vou sempre chorar por essa cachorrinha. Tem gente que acha que é frescura, que é "apenas mais um bicho". Mas todos nós, que acreditamos ter nascido com essa sintonia com os animais, sabemos que é saudade, e que não vai passar...
Eu tenho a certeza de que ela foi feliz por um ano. E isso me conforta muito.
O vet que fez a eutanásia chorou. E eu reconheci nele um grande homem. Se para ele, que faz todos os dias, é sofrido, imagine para o melhor amigo?
Beijo!