Abrigo ou coleção de animais?

Faz muito tempo que não escrevo nada relacionado à proteção animal, mas resolvi escrever este texto para explicar os motivos pelos quais acho que jogar um animal por cima do muro da casa de um suposto protetor animal ou mesmo atar um cão à sua grade pode vir a ser uma atitude extremamente cruel.

Quem como eu já freqüentou dezenas de abrigos por aí, sabe que a imensa maioria deles não pode ser chamada assim. Na minha concepção, um ABRIGO PARA ANIMAIS nem deveria ter esse nome. Deveria ser um centro de recuperação, um lugar que premisse que o animal se recuperasse do trauma do abandono, conquistasse a saúde merecida, fosse classificado quanto ao seu temperamento e então, colocado para adoção.

Isso que as pessoas chamam de ABRIGO, como a SUIPA e mais a casa da fulana, casa do sicrano, são COLEÇÕES DE ANIMAIS. A SUIPA declarou ao Ministério Público (fonte: O Globo) ter 99% de taxa de mortalidade. Se a mortalidade é originada pela superpopulação e a entidade continua a aceitar animais, e a impor regras que dificultam a adoção, realmente não passa de mais uma coleção. Coleção organizada, mas ainda uma coleção.

Os abrigos pequenos não são capazes de oferecer alimentação adequada, assistência veterinária, cuidados especiais para cada caso. Muitas vezes nem ao menos conseguem esterilizar os animais, que se reproduzem aos montes e acabam tendo seus filhotes devorados pelos maiores. Se não podem AJUDAR um animal, não servem para nada.

Depois de muitos anos atuaste na proteção animal, cheguei à conclusão que, SIM, existem muitas pessoas bem intencionadas, que dedicam suas vidas à causa animal, abdicando sempre de quase tudo para salvar algumas vidas preciosas. Essas pessoas, como a Renata, do GARRA, a Andréa Lambert, o pessoal do SOS Vida Animal, a SOZED, apenas para citar alguns bons exemplos, é que deveriam ser ajudadas. Quem realmente se importa com animais precisa ser criterioso até para ajudar, pois dar dinheiro a um colecionador de animais é apenas prolongar o inevitável: um dia o local vai ser denunciado pelos vizinhos, e o que era para ser um abrigo será classificado como um campo de concentração. Que é o que são de verdade!

Imagine um local onde 100, 150 animais vivem soltos ou espremidos em pequenos canis com portas de madeira e chão de terra. Onde falta comida para todos e muitas vezes os animais se matam. Onde nem todos são esterilizados e quando uma cadela entra no cio, é estuprada por inúmeros machos, que acabam brigando e se rasgando todos. Imaginou? Agora pense nas condições de vida da dona dessa casa… mora em um quartinho com um colchão velho, cheio de pulgas e carrapatos. Os armários que guardam seus poucos pertences também guardam fezes de gatos e muitas, muitas baratas. A casa está caindo. Já não tem portas, e os portais estão tomados por baratas e outros insetos tão ou mais repugnantes. Não há nenhum tipo de conforto, a não seu um cano que permite o banho frio.

Esse lugar existe. Meu cachorro, o Buticus, foi adotado lá

E por que eu estava lá?

Porque achava que poderia ajudar a melhorar, junto com meus companheiros, a qualidade de vida dos animais abrigados. Esterilizá-los, curá-los, conseguir bons lares para eles.

Sim, era possível desde que a dona da casa se comprometesse a não recolher mais nenhum animal até que os que lá estavam fossem adotados. E ela fez isso? Não, não fez, porque era como a grande maioria dos colecionadores, desprovida de estabilidade emocional. Tirava tudo de si para dar aos bichos, e não percebia que era um caminho sem volta. O pouco que tinha era insuficiente para promover qualquer melhoria, e a cada dia ela levava mais animais para casa. TRISTE. Mas é a realidade da maioria dos abrigos.

E a pergunta que fica é: o que acontece com os animais abrigados, quando o colecionador morre?

Quando pensar em amarrar um animal ao portão de um protetor ou mesmo jogá-lo por cima do muro, imagine que do outro lado do muro podem estar 20, 30, 50 cães famintos que vão encarar o visitante como comida. E que um cachorro amarrado a uma grade está à mercê de outros cachorros, de seres humanos cruéis e de crianças psicopatas.

Há alguns anos, a Renata Prieto, minha grande amiga, ligou (eu já morava em Vargem Pequena) e disse que haviam deixado uma caixa com seis filhinhos na pracinha do Bairro Peixoto. Disse que estavam no INPA e que os vets disseram que não podiam cuidar. Perguntou se eu conhecia alguém que tivesse uma cadela amamentando. Os filhotes estavam ainda com os cordões umbilicais pendurados.

Sim, eu conhecia. Minha vizinha havia resgatado uma cachorrinha em uma obra alguns dias antes, e os filhotes estavam quase desmamados. Fui buscar os cachorrinhos. Acho que foi a última vez que vi a Re, se não me engano. "Enxertamos" os filhotes na mamãe e deu quase tudo certo. Digo que foi quase tudo porque apenas três sobreviveram. Os outros haviam ficado horas no sol, e não resistiram.

Noutro dia, passando de bicicleta em frente à casa da síndica de meu condomínio, Márcia, ela me chamou e mostrou dois cachorros lindos, grandes, bem tratados. Perguntem quem eram e ela disse que eram "meus bebês de um dia".

Me emocionei.

Esses cachorrinhos deram a sorte de "caírem" na casa de uma protetora que tem muitos bichos, mas que tem condições financeiras de oferecer a eles uma boa vida! Não foram atirados por cima do muro e nem abandonados em uma caixa na porta da casa dela.

É isso!

Abraços a todos!

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