IRRITANDO LUCIANO BOITEUX - vizinhos

 Sempre, desde a minha mais tenra idade, tive vizinhos indesejáveis. Minhas primeiras lembranças são do Buscapé. O cara morava em uma casa esquisita lá na rua Piratininga, e aparentemente detestava crianças. Anos mais tarde, compreendi que eu é que era o vizinho indesejável, já que todos os dias, voltando da escola, tocava sua campainha e saía correndo. 


Mais tarde, na Arthur Araripe, tive um vizinho evangélico, cuja esposa gostava de tocar a campainha dos outros às sete da manhã, toda arrumada, para levar a palavra de Deus. Até que um dia abri a porta de cuecas e expliquei que era ateu e, portanto, dificilmente o que ela tinha a dizer iria me interessar. Seu marido, o síndico, que, desde a primeira eleição para o cargo somente não venceu por unanimidade porque votei contra ele, desenvolveu um ódio mortal por mim.


Mas antes dele, do marido síndico, houve um outro espírito-de-porco, o síndico 1. Eu morava no prédio há cerca de uma semana... Estava saindo de casa, em uma bela manhã de domingo, quando fui interpelado por uma velha maluca, me xingando:


_A senhora está falando comigo?


"_Sim, você é muito mal educado... Blá blá blá..."


_O que eu fiz?


"_Passou e não segurou a porta..."


_Não vi a senhora...


"_Você é respondão. Vou chamar meu marido, que é da Marinha..."


_Quero que a senhora e seu marido vão para a puta que os pariu! Ah, não fode!


Desceu o marido. Eu estava bastante calmo, decidindo se sairia de carro ou de taxi. O cara estava possesso:


"_Quem você pensa que é para ofender os outros no MEU PRÉDIO?"


_Luciano Boiteux. Prazer. Agora pare de encher meu saco que estou ocupado!


"_Boiteux? O que você é do Colbert?"


_Filho!


"_Puta merda, o filho do cara mais escroto da Marinha mora no MEU PRÉDIO!"


Esse síndico me perseguiu por 8 anos. Se eu estacionasse um pouco torto, reclamava. Se fizesse algum barulho, reclamava. Até que descobri que a filha, que morava na cobertura, havia alterado a fachada, algo proibido no Estatuto do Condomínio, que eu havia me encarregado de ler. Fui ao apartamento de minha irmã, na outra rua, fotografei a tal cobertura e passei a fotografar tudo o que via de errado no edifício: carros fora das vagas, coisas que não eram carros nas vagas, fachadas modificadas, tapetes pendurados nas varandas, cachorros no elevador, gatos soltos e por aí vai. Fiz um dossiê de mais de 20 páginas e colei no livro de reclamações. Nunca mais me enxeram o saco!


Há alguns meses aluguei o terreno ao lado de minha casa para guardar meu food truck e todos os dias alguém estaciona em minha porta. Minha ilibada honestidade me impede de arrancar um retrovisor ou furar um pneu, mas reclamo o tempo todo desses vizinhos filhos da puta que tenho!


Ninguém merece!


Bom sábado a todos!

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