Achei esse texto nas NOTAS do meu Mac...
-
Em outubro de 1989 eu me inscrevi para o vestibular da Puc - desenho industrial. Nem sabia direito do que se tratava, mas se tinha "desenho" no nome, era aquilo que eu queria fazer da vida. Desenhar.
Na faculdade, tive grandes mestres, como o Amador Perez e o Urian Agria - que me ensinaram que nem tudo é o que parece, e que pequenos detalhes podem fazer uma enorme diferença, e mais, que é preciso viver o design o tempo todo, reparar no que quase ninguém repara, passar horas pensando em como um milímetro para cá ou para lá pode fazer diferença.
Aprendendo o que os mestres esperavam de meu papel, ou melhor, do que eu colocaria em meu papel, aprendi a traduzir as expectativas de meus clientes e hoje, 30 anos depois, sento e crio com quase 100% de aprovação na primeira arte...
30 anos pensando em design. 29 anos e meio estudando design. Não é pouca coisa. A dedicação ao aprendizado é intensa e insistentemente eficiente. Mas eu acredito no talento. Tenho um amigo, Armandinho, também designer, que diz que eu fui o primeiro designer que ele conheceu que já era designer muito antes de entrar para a faculdade. Com 15 anos construí um kart cross - muito antes dessas coisinhas chegarem no Brasil. Obviamente tive ajuda do Mauro, irmão de inteligência privilegiada e grande conhecimento de mecânica, mas o fato é que fiz...
Um designer é atormentado por natureza. Não se conforma com "linhas orgânicas" em uma construção que deveria ser reta, com um quadro torto na parede, ou ainda com uma parede fora de esquadro. Seguir linhas, paralelos, encaixes, milímetros, faz parte da nossa vida...
Uma vez desenhei uma espiga de milho, na aula do Urian. Olhava para o tal milho, gigante no papel A2, e me orgulhava dos traços, das formas e das pinceladas. Urian veio, olhou, olhou, pegou o pincel, molhou na tinta mais branca da palheta e fez um ponto de luz em cada grão. O desenho pulou aos meus olhos!
"_Pequenos detalhes, Boiteux. Pequenos detalhes!"
E, de pequenos e especiais detalhes passei a viver. Meu primeiro branding foi há 27 anos, a marca de uma corretora chamada Ágora, que nem sei se ainda existe. Mas por que estou escrevendo isso às 6 da manhã de um sábado? Porque acabei de ver uma mensagem de um cliente que adorou o projeto que mandei ontem, disse que eu sei "traduzir no papel o que conversamos em tantas reuniões". Isso é um dom? Não, e fruto de toda uma vivência, de todo um passar o tempo rabiscando coisas mentalmente e vendo-as tomar forma enquanto ouço o cliente falar.
E o que faz a diferença nesse aprendizado constante chamado design? Tudo. Observar o que os grandes designers - Raymond Loewy, meu preferido; Philippe Starck; Hans Donner com suas criações tão complexas que levam anos para tomarem formas reais; Pininfarina - rabiscam…
Comentários