Texto de 2013
Minha opinião, mais que sincera. E não sou o carinha que lê posts na internet e sai dando opinião. Eu já arregacei as mangas, já resgatei, já ajudei a vacinar animais em presídio, já adotei, já roubei animais injustiçados, já fiz campanhas, já trabalhei de graça, já briguei, e já estive engajado, durante anos, no maior abrigo do mundo, tentando ajudar. Já ajudei campanhas em favelas, em feirinhas. Criei e tirei do papel projetos que hoje são copiados, e, com todo o orgulho, lutei ao lados de pessoas que hoje tenho orgulho de chamar de amigos. Posso dizer, do alto de meus 50 anos, que fui PROTETOR ANIMAL.
Mas talvez hoje eu não me enquadre em nenhum modelo de proteção, ou talvez não concorde com o que vejo por aí. Algumas vezes estive em abrigos insalubres, gerenciados por pessoas doentes. Tinham boa intenção? Na concepção delas, sim. Recolhiam animais das ruas e os trancavam em quintais, sem muita comida, sem muito abrigo, sem muita segurança e sem nenhum atendimento veterinário. O Buticus veio de um lugar assim.
Quantos Buticus morreram em lugares assim? Doentes, com fome, devorados pelos outros, à míngua?
Temos hoje uma nova classe de "protetores", pessoas que perceberam (o mundo é dos espertos?) que uma simples foto de um animal machucado pode gerar uma enorme comoção, e acumular milhares de reais em doações. Esse dinheiro é fruto da boa vontade de pessoas que sentem pena, mas não se envolvem a ponto de conhecer o(a) filho(a) da puta por trás da ação.
No exterior os grupos de proteção costumam ser mais organizados, montar abrigos auto sustentáveis, com clínicas veterinárias, pet shops, patrocinadores fortes, programas de TV. Aqui a maioria só consegue se organizar a ponto de pedir ajuda online e, no máximo, contar com a parceria de pet shops e clínicas veterinárias. Dificilmente concordam com as condições impostas pelas prefeituras, fabricantes de ração ou de medicamentos.
Por que isso acontece? Porque existe uma arrogância generalizada entre os protetores. Alguns não querem vincular seus nomes às indústrias. Mas de que valem esses nomes, se um dia "a casa cai", por falta de dinheiro, ou mesmo por desistência ou doença de seus dirigentes. Ninguém aguenta passar uma vida vendo animais resgatados morrerem por falta de cuidados. É muito duro você resgatar e saber que não poderá oferecer tudo o que o animal precisa, simplesmente porque não há dinheiro.
Os grandes fabricantes não vão oferecer recursos e permitir o uso de seus nomes se não tiverem uma boa contrapartida, algo impressionante e diferente para mostrar, e dizer: GRAÇAS A NÓS, MILHARES DE ANIMAIS ABANDONADOS FORAM SALVOS (vale salientar que, a meu ver, se um animal resgatado não é adotado, e passa a vida abrigado em más condições, engaiolado ou em um canil superlotado, não foi salvo, e sim aprisionado).
Há muitos anos, 2003 se não me engano, Bebel da SUIPA me pediu ajuda. Ela comprou, com recursos próprios, um terreno em Itaboraí. Queria montar um abrigo de alto padrão, e manter a sede do Jacarezinho como um centro de triagem. Chamei uma amiga arquiteta, que fez um projeto de primeiro mundo, sem cobrar um centavo. Um ofereceu sua empresa de informática e outro amigo se propôs a implementar um call center nos moldes mais eficientes, para recuperar sócios desgarrados. Eu projetei a Unidade de Resgate, a loja virtual, os produtos... e montei uma apresentação para o Conde, que era o prefeito.
Fui até ele com a Bebel. Apresentamos o projeto, e ele disse:
"_Eu topo! Dou um milhão, mas quero pregar uma placa dizendo que fui eu que dei!"
Bebel não quis a placa, o Conde não deu porra nenhuma e eu fiquei mal com meus amigos. O nome disso é FALTA DE VISÃO EMPRESARIAL, e aconteceu porque para administrar o maior abrigo do mundo - com 99% de mortalidade, e transformá-lo no maior abrigo do mundo, com baixíssima mortalidade, era preciso ter a cabeça de empresária, e não de ativista. Se ela chamasse um administrador profissional, deixasse a auditoria trabalhar e coibisse o roubo, dispensando os ladrões, hoje, quase 15 anos depois, talvez Itaboraí estivesse no ANIMAL PLANET.
O que faltou? Estabilidade emocional. O que eu perdi? A crença nas boas intenções da grande maioria dos protetores. O que os animais abrigados à época perderam? A chance de viver. Obviamente muitas pessoas são bem intencionadas, e pedem nas redes sociais pelo desespero de ver as contas se multiplicando e saber que muitos dos seus resgatados não irá sobreviver, porque não dispõe de recursos para tanto.
Eu, se ganhasse na Mega Sena, mandaria entregar pacotes nas casas de algumas pessoas que admiro. Amanhã mesmo vou à lotérica de manhã. A esperança é a última que morre.
Escrevi isso tudo hoje porque um menino chamado João Alexandre se emocionou com a história de Christian, o leão. E cada emoção é uma semente do bem...
Boa noite a todos. Se chegou até aqui, muito obrigado pela atenção!

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